sábado, 16 de fevereiro de 2013

O MERCADO E A SOPA DOS POBRES

Confesso que me começa a ser extremamente complicado escrever, ou até mesmo pensar sobre o que quer que seja da política e da governação no Portugal de 2013.
De facto, e de há uns meses a esta parte, a farsa generalizada que nos têm imposto, conjugada com uma letargia colectiva cada vez mais evidente, torna difícil o elencar de qualquer pensamento ou análise estruturada.
As sucessivas declarações de sucessos, objectivos atingidos, cumprimento de metas, etc., conjugadas com o cinismo atroz e a insensibilidade de quem as profere, ofuscam a capacidade de análise do comum dos mortais, e conduzem-me para uma maior acomodação. Tenho tido a nítida sensação, que nada fará com que esta gente reconheça ou aceite que está a transformar Portugal numa espécie de campo de refugiados resgatado pela Troika.
Vejamos os indicadores macroeconómicos de 2012, aos quais pensaria eu, na minha suprema ingenuidade, poderiam conduzir a um acto de contrição, ou até mesmo de mero reconhecimento do insucesso das políticas adoptadas, seria o mínimo. Mas não, perante um défice real na casa dos 5,5% do produto, acrescenta-se a ANA e uns fundo de pesões da banca, e apresenta-se 4,9%, até Abril quando o Eurostat revelar os números finais estamos bem. A contracção da economia no último trimestre regista 3,8%, calma no total do ano são apenas 0,2% de desvio, o desemprego chega aos 16,9%, muito próximo do milhão de desempregados, apesar da emigração, etc., não tem problema cria-se uns estágios e umas coisas, e o pessoal engole.
E o facto é que, tirando uma ou outra excepção, engole mesmo, horas e horas de debate interminável a discutir o que, citando o almirante Pinheiro de Azevedo, “é só fumaça”, gozando com um povo que nas palavras do mesmo “é sereno”, e até o “bardamerda para o povo” se consegue descortinar em algumas declarações da nossa elite governativa.
Esta gente não tem vergonha, em reacção a todos os falhanços, vem sucessivamente alterando as metas, primeiro o défice, depois a dívida, depois o crescimento da economia, o desemprego, as exportações, a balança comercial, só falta o sol no inverno e a chuva no verão.
Mas a que me deixou “de rastos”, foi a do regresso aos mercados. Não ponho em causa, que de facto a emissão de dívida a cinco anos com um juro de 5%, é um facto positivo. Nada me custa assumir, sendo uma questão de bom senso. Agora ver a entourage do governo ir ao armário buscar a bandeira para vir comemorar tal facto, é que já me parece demais, aliás apenas justificável pela época carnavalesca que vivíamos. Aliás estou convicto que o nosso governo já está arrependido de não ter concedido tolerância de ponto, para que toda a população pudesse ter comemorado o sucesso de nos continuarmos a endividar a taxas proibitivas, com a ajuda do banco central europeu, e a nossa banca a lucrar milhões com esta operação.
Enquanto isto, as pessoas continuam a empobrecer, a ficar desempregadas, e a perder a esperança. Mas não importa, os mercados, os tais a que o Engº Sócrates se agarrou desesperadamente no final do seu mandato, confiam na capacidade de Portugal continuar a massacrar o seu povo. Fico muito mais optimista.
António Vicente

1 comentário:

  1. Caro Amigo António Vicente,

    Infelizmente começo a dar-te razão salvaguardando a minha margem de optimismo. :/

    JAL

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