domingo, 7 de outubro de 2012

No país das formigas, dos carros novos, das cigarras e dos cigarros


No país das formigas, dos carros novos, das cigarras e dos cigarros
Perante o desastre da execução orçamental deste ano, os portugueses foram brindados com diversas afirmações desalinhadas e incoerentes por parte dos nossos, desorientados, governantes: “o sucesso depende da nossa vontade colectiva”; “o país das muitas cigarras e das poucas formigas”; ou o mais recente “o melhor povo do mundo”.
Tentar encontrar um fio condutor, ou uma lógica realista para esta catadupa de verborreia pedagógica, configura-se um exercício particularmente complicado, desde logo porque se percebe que os juízos de valor que os governantes vão formulando sobre o povo que governam, mudam com a velocidade das marés, consoante o palco e o tempo em que vão sendo enunciados. Perante o insucesso, somos um país de mandraços, piegas, etc., quando nos anunciam o “assalto á mão armada”, nas palavras de Marques Mendes (não minhas), já somos os melhores do mundo.
Este palco privilegiado para humoristas e cartoonistas, quando analisado com um pouco mais de atenção, acaba por nos revelar uma aterrorizadora realidade, esta gente para além de não nos saber governar, odeia-nos de morte, e acha-nos merecedores de todos os castigos, uma vez que nos culpa de todos os seus insucessos.
Iniciaremos pelo insucesso e pela nossa vontade colectiva. De facto, a execução orçamental de 2012 é um verdadeiro desastre, impossível de esconder, e complicado de justificar. Atentemos nos números, o défice consolidado do Estado é de 6,8% do Produto Interno Bruto, no final do mês de Agosto, tornando impossível que tecnicamente se venha a atingir algo parecido com os, agora, 5% negociados com a troika.  Aliás poderão estar criadas as condições para o défice deste ano, envergonhar os números apresentados pelos governos do Eng.º Sócrates.
Qual é então a razão do nosso insucesso colectivo? Assim exprimido pelo nosso primeiro-ministro. Um olhar rápido pela execução orçamental, revela a resposta: Incompetência, pura incompetência. Em Maio deste ano, deste ano, ressalvo, o governo apresentou um orçamento rectificativo, aliás o quarto do ano, o que por si só revela a capacidade de previsão instalada no Terreiro do Paço, no qual previa, do lado da receita 586 milhões de euros, quando levava de execução nos cinco primeiros meses 164,5 milhões, ou seja, um desvio de 32%, ou 190 milhões de euros. No Iva, entre a previsão e a execução a Maio, 323 milhões de Euros. No imposto sobre o tabaco, 221 milhões. Só nestas três rubricas perto de 750 milhões de Euros, de desvio em impostos não cobrados, sobre o consumo.
Ou seja, as cigarras transformaram-se em formigas, deixaram de frequentar stands de automóveis, ir aos restaurantes e de fumar, e daqui deriva o nosso insucesso colectivo, que tanto irrita os nossos governantes. Daqui das duas uma, ou estamos perante um erro de previsão, o que se revela de uma incompetência atroz, pois em Maio, estava-se a fazer prognósticos a meio do jogo, ou perante uma manobra mal executada de fintar a troika naquilo que esta tem mais dificuldade em controlar. Sendo uma ou outra, o governo tem de assumir a sua incapacidade.

António Vicente











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